Friday, December 29, 2006

ANO NOVO

Mudar de ano pode significar algo de novo nas nossas vidas? Sim, provavelmente do ponto de vista da tributação fiscal, com vários aumentos de preços de bens e serviços para o consumidor. Mas, tirando isso, existirá algo que mude mais? Verdadeiramente? Certo! Bem sei que tudo muda. Sim! Mas muda todos os dias, não necessáriamente no fim do ano civil, ou não?

Se assim é, como justificar então todos estes festejos, estas celebrações "pagãs" pela passagem de mais um ano civil completo. Qual é a necessidade que a nossa civilização sente de exteriorizar, de um modo agendado e pré calendarizado, esta explosão de alegria por toda a parte do mundo, durante as 24 horas em que o sol vai rodando pelo planeta e definindo a entrada oficial do novo ano nos vários locais habitados, desde os mais recônditos e menos desenvolvidos até aos mais ricos e eruditos.

Festas de ano novo, Reveillons para todos os gostos, concertos, fogo-de-artifício, passas, champanhe, cornetas, chapéus festivos, enfim, um nunca mais acabar. E para quê? Para benefício de quê? Em comemoração de quê?

Claro que é preferível ter um dia como este de alegria pré definida do que o contrário, caindo na melancolia ou na tristeza depressiva, desde que se consiga reflectir um pouco naquilo que este optimismo forçado nos leva a fazer crer.

Aproveite-se esta festa, todo este ruído para que, cada um de nós, faça um simples pensamento e tome uma decisão muito simples, mesmo que aos próprios olhos pareça quase insignificante:

-"Vou fazer algo para tornar este mundo melhor"

E se cada um de nós, na sua dimensão própria, fizer nesta passagem do ano um simples acto ao seu próprio alcance que permita tornar este mundo em que vivemos melhor, então estou certo de que o dia 1 de Janeiro de 2007 será, sem sombra de dúvida, um dia melhor para o mundo e que estes festejos celebram algo de bom e de útil.

Assim seja!

Saturday, December 9, 2006

TRANSPOR O PORTAL

Ei-lo ali já bem visível, mesmo à distância de um tiro de besta, este portal que nos transporta para as profundezas dos nossos próprios pensamentos.
Quem o quer transpor e navegar nas ondas interminaveis dos cantos mais recônditos do seu próprio EU?
Vou dar um passo e aproximar-me mais um pouco.
Não parece perigoso visto daqui, mas sempre me disseram que soltar o pensamento pode ter as consequências mais imprevisíveis que se pode imaginar. É preciso ter muito cuidado!
Ouve-se um ligeiro sussurro, como se fosse o suspiro da folhagem das árvores do parque quando fazem as suas danças na brisa cálida da tarde. O que será?
Mas tenho que ser bravo e avançar sem temor. Afinal o portal já está aqui mesmo e, pelo menos até agora, não me senti sequer, nem um pouco, ameaçado. Mas as amarras ainda continuam presas...
Agora começo a sentir, de forma ténue, o cheiro leve e agradável do feno em flor dos prados por onde se espraiam em vagas contínuas, ritmadas e persistentes, as raízes do meu pensamento.
A sombra do portal já projecta as suas tonalidades de claro-escuro, numa profusão interminavel de cinzentos que me recordam o arrepio frio de dias menos bons.
Será que uma vez do lado de lá será irreversível voltar? Haverá perdão para o pensamento? Será que é crime pensar? O que dizem os "Códigos" sobre isto?
Vou arriscar a dar mais um passo e transpor o portal. Aqui vou!
Mais um passo e AAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Tudo é leve, claro, imenso e luminoso. Azul claro talvez, mas, sem dúvida, sem qualquer peso e tudo se move numa velocidade louca embora planando suavemente, sem qualquer esforço.
O sentimento de algo perfeitamente intemporal é imenso e permanente. A sensação de ser e estar perde-se um pouco e não sinto onde ponho os pés mas posso voar pelo espaço ganhando, ao mesmo tempo, uma consciência cósmica que pensava não existir ou poder algum dia possuir.
Será que isto é o início do pensamento?
Que doce sensação de liberdade e intemporalidade!
Mas só agora me lembro, querem entrar?
Vamos! Têm de dar este passo!
Entrem!
Transponham o portal!