Saturday, May 5, 2007

Experiência Aterradora




Depois de ter terminado de escrever a minha mensagem anterior, desci à sala de onde vinham as fortes pancadas no vidro.


De facto, os ramos grossos da árvore grande que está em frente à sala batiam furiosamente contra o vidro, mas lembram-se? Não havia vento nenhum na noite da Consoada.


Que coisa estranha!


A árvore agitava-se como se tivesse vontade própria.


Desliguei o alarme e dei a volta ao jardim todo para ver se via alguém, mas nada. Então, ao longe, ouvi um barulho que me pareceu vir da casa de banho junto à porta e entrei. Ao passar pelo espelho, olhei de relance e … lá do outro lado … não foi a mim que me vi. Estava ali mesmo à minha frente, do outro lado do espelho, uma figura lívida de um homem velho, com a barba por fazer de três dias e o cabelo cortado do mesmo tamanho da barba. E sabem? As sobrancelhas eram também do mesmo tamanho da barba. E a cara lívida, quase branca, numa expressão tão triste. Mas a boca era vermelha, de um vermelho de sangue.


Olhei outra vez para o espelho e agora, para minha surpresa, era eu que lá estava. Estava branco, também. Sentia-me a tremer violentamente. E com um frio de morte!


Porquê a mim?


Porque é que isto me estava a acontecer?


Que estranho! Estaria com alucinações?


Foi então que aquilo tudo começou. Primeiro como uma súplica triste e chorosa, arrastada e fria. Triste, tão triste que dava vontade de chorar, só de ouvir. De onde viria aquele ruído? De que zona profunda do nada aquilo viria? Pensei duas vezes em subir a escada, em ficar ali ou em sair de casa a correr. De repente, senti, de novo, aquele vento lúgubre a passar por mim.


Outra vez? Pensei.


O que vou fazer? De onde vem isto tudo? O que se está a passar?


E então, sem estar minimamente à espera, um grito felino feriu-me os ouvidos. Quase como se fosse um miado brutal de um gato demoníaco, estridente e aterrador. Mas triste, tão profundamente triste!


Tenho que fazer algo, recordo-me de ter pensado.


Agora ouvia distintamente a súplica arrepiante e gélida, como se fosse um chamamento longínquo de alguém infinitamente aflito e que me chamasse para perto de si. Entretanto, tremendo violentamente, quase sem poder controlar as mãos, fui andando pela casa fora e fui acendendo as luzes todas. Casa e jardim tudo iluminado. E não via nada! Não sei se foi por isso, mas, subitamente, com um estrondo enorme, as luzes apagaram-se todas ao mesmo tempo.


Agora, eu ali estava, envolto na mais completa escuridão, com os gemidos e chamamentos cada vez mais fortes, sentindo aquelas passagens de ar gélido pela minha cara com, cada vez, mais frequência, até que ouvi, de novo, o mesmo grito miado, uma, … duas, … três vezes.


Então o grito, lentamente, foi-se transformando num sonoro toque de campainha.


Sim, era a campainha do meu portão da rua a tocar.


Acordei rapidamente, levantei-me do sofá da sala e fui a correr até ao portão.


Era o guarda-nocturno a avisar-me que eu tinha deixado as luzes todas acesas e a saber se estava tudo bem. Disse-lhe que sim, apesar de ter reparado na cara de dúvida do guarda, e despedi-me desejando-lhe um bom Natal.


Ele foi-se embora para a sua ronda habitual e só quando já estava a fechar a porta de casa é que reparei que a minha mão estava toda arranhada e que estava fria como o gelo.


O que se terá passado?


Ainda hoje não consigo perceber e penso nisto continuamente desde esse dia.


4 comments:

Minda said...

Mas que experiência aterradora mesmo... até eu me senti arrepiada.
Mas gostei. Gostei mesmo.

E, já agora, obrigada pela visita ao meu cantinho.

João Zarro said...

Acho que deve ter sido o Pai Natal. Provavelmente não se portou bem durante esse ano...

Anonymous said...

Medronho mesmo ...

Aprígio Menezes said...

Árvore do jardim VS árvore de natal?